Sou um colecionador de bares, quanto mais estranho e simplório mais me afeiçôo. Adoro aqueles onde ainda existem garrafas de pinga com escorpiões, cobras, ervas, sementes...
Daqueles que não têm cardápio, nem 10%, cujos preços e mercadorias desatualizados estão numa tabela da SUNAB, empoeirada, onde ainda se lê Mirinda , Grapete, Gato Preto e outras espécies extintas.
Onde não existe aparelho de som e sim, um radinho chiando, que parece trazer a música do passado e a Bossa Nova só vai chegar no ano que vem. O rádio só serve para se conferir o bicho, feito ali mesmo no balcão.
Tem que ter pipoca Guri, bala Chita de uva, salgadinho Aritana,Banda e pirulito Zorro.
Tem que ter a taça de futebol, de um campeonato que nunca existiu e tem que ter o cara que diz, que Maradona foi melhor que Pelé, mas Genoíno do Democrata...
O dono tem que emprestar o casco, vender fiado e não saber fazer outra coisa na vida, porque não existe coisa pior, que o dono do bar inventar de trocar de profissão.
A prosa é sempre boa, a economia sempre instável, o prefeito sempre frouxo e tem sempre alguém mandando o presidente à puta que o pariu.
Boteco bom tem que ter um cara que dizem ser um gênio da matemática, mas se perdeu na cachaça.
Ali se combina a pintura da geladeira, pescarias, o empréstimo de grana e se fala da vida alheia, até para se esquecer da própria vida.
Precisa ser de esquina e ter sempre um ex-médico alcoólatra que realiza passeios noturnos, matutinos e vespértinos indo e não voltando do boteco.
Tem que ter o cara que toma Caracu com ovo, tem que ter a solteirona que bebe mais que homem e sobe em cima da mesa, que todo mundo suspeita ser sapata e o PM corno.
Gosto daquelas bitacas que estão eternamente em reforma e o pedreiro já virou um funcionário. No final esse pedreiro acaba acumulando tantos atrasados, que por fim se torna sócio do negócio, ou acaba fugindo com a mulher do PM corno.
O meu favorito é um que vende carne da capivara, mas que de madrugada todo mundo vê o dono espantando os cachorros...pra dentro do bar.