terça-feira, 26 de julho de 2011

HOJE É MEU ANIVERSÁRIO


Lembro dos meus aniversários, aquele bolo de glacê azul. Aquele povão dando tapa na minha cabeça e dizendo que eu cresci...
Não sei por que colocávamos os presentes sobre a cama. Aquele monte de meias Lupo, ontem abri um par daquela época.
Meu tio Arnaldo, sempre querendo estimular nossa culpa, ia de chinelo Havaiana, com uma tira de cada cor, camiseta regata e a bermuda de coqueiros. Sempre com aquela frase ensaiada:
_O presente eu mando depois...
Meu tio Lindomar, sempre com presentes inúteis, aquelas agendas, canecos de louça, uma vez ele me deu uma camiseta de um posto de gasolina.
O pior de todos, foi um em que minha Tia Cotinha veio doente ficar na nossa casa, a casa cheia e a minha tia lá, sentada, totalmente esclerosada, xingando palavrões.
Tio Nescésio, orgulhoso do seu problema de próstata, cantando aos quatro cantos que seu mal é fruto de doença venérea mal curada. Sofre de incontinência urinária, usa fraldão e sua cadeira também especial, é forrada com um impermeabilizante importado ,Protect All, comprado no 09001. Ano passado tentaram curá-lo, o velho ficou enterrado por 12 horas na praia da areia preta em Guarapari, as areias monazíticas possuem propriedades medicinais tidas como milagrosas, mas de nada adiantou. Adora contar aos mais novos as suas proezas sexuais, como no dia em que numa noite só, transou com uma tailandeza praticante de pompoarismo que abria uma garrafa de champanhe de um modo nada convencional, com uma francesa que trabalhava num circo como engolidora de fogo que o chamava de “Mon Cheval!” “Meu cavalo!”, e uma padeira portuguesa que fazia amor cantando o “Vira”. “Bons tempos aqueles!” Repete ele com os olhinhos verdes molhados, toda vez que conta essa história.

Tio Claudionor, o impotente, com aquela cara de cantor de tango. Casado com minha Tia Helma, queimando as crianças com a ponta do cigarro.
Sei que no meio da festa minha mãe resolve mostrar as jóias da minha tia Cotinha à uma amiga e descobre que as mesmas foram roubadas.
Para variar acusaram o meu tio Arnaldo, coitado, só porque estava desempregado...bom deixa porque até eu que era pequeno puxei o corinho:
_Foi tio Arnaldo, foi tio Arnaldo!
O clima ficou péssimo na nossa casa. E pioraria. Numa manhã, minha mãe colocava roupas no varal quando Adelaide, nossa empregada, passou enrolada numa toalha saindo do banho em direção ao seu quarto. Minha mãe olhou e soltou um grito:
_É a meia! Eu conheço essa meia!
Adelaide trazia os cabelos enrolados e presos numa meia , coisa que mulher faz de vez em quando, principalmente as auxiliares do lar.
_É a meia das jóias.
Acontece que como a caixa que guardava as jóias de tia Cotinha estava muito velha, cheia de buracos, minha mãe pegou a caixa e colocou numa meia dessas finas de mulher. E era justamente essa meia que Adelaide trazia prendendo os cabelos. Em minutos todos estavam ali fora, minha mãe pegou Adelaide foi pro quarto dela e trancou a porta. Ficaram ali conversando por duas horas. Quando enfim a porta se abriu...
Lá dentro do  quarto ela confessou o crime, em troca de não denunciá-la para a polícia.  Adelaide devolveria as jóias e abdicaria de todos seus direitos trabalhistas.



1  O 0900 era um serviço de vendas pelo telefone muito utilizado pela minha família.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

SOBRE O TEMPO E AS COISAS DA VIDA


Estamos vivendo a era do mito tecnológico, que cria a ilusão de que a ciência pode tudo, inclusive nos tornar imortais. Com isso abandonamos os verdadeiros mitos, aqueles que nos impulsionam, nos lembram que mesmo na finitude somos capazes de coisas maravilhosas e não a falsa idéia, de que podemos comprar tudo, inclusive a felicidade.
Discutia, entre um chopp e outro com um amigo, sobre como as sociedades avançaram na 1ª e 2ª guerra. É evidente, que a ciência correu contra o tempo, mas para mim os exemplos positivos são mais importantes para nossa evolução, que a bomba atômica e outras burrices humanas.
O cara que salvou um monte de judeus, a criança que mesmo morando num porão aprendeu a tocar piano, o médico que encarou as tropas nazistas para salvar pacientes, o torturado que perdoou o torturador, esses são os verdadeiros mitos que devemos seguir. São esses exemplos positivos, que tornaram o mundo pós guerra  um pouco mais humano.
Não existe cura artificial para a infelicidade e melhor, só um idiota é 24 horas por dia feliz, assim como, só um doente é 30 dias por mês infeliz. A tristeza faz parte da existência, seja pela perda, pela desilusão, para isso não existe remédio, mas aí entra o tal mito tecnológico, as pessoas entregam o seu destino à panacéia moderna, os antidepressivos, caem num buraco e não saem mais.

Nossa sociedade está sob essa nuvem, porque paramos de fazer o que é verdadeiramente importante, ouvir os velhos e as crianças por exemplo, não temos tempo mais pra isso. A importância de ouví-los está no fato, de que eles não estão contaminados pelos falsos mitos. Quem nunca ouviu algo parecido: Para todo mundo ser feliz, pega tudo de todo mundo, junta e divide igual.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

PLUNCT PLACT ZUM

Tem que ser selado, registrado, carimbado, avaliado, rotulado se quiser voar! (Raul Seixas)



Hoje precisei de um serviço básico da prefeitura, uma certidão negativa de débitos tributários. Essa certidão serve para provar, que eu, cidadão, não tenho dívidas com a bendita.
Primeiro fui ao site da prefeitura, onde, depois de um arrepio frio da ponta da coluna ao cerebelo, descobri que esse documento não poderia ser extraído diretamente do site. Detalhe quase todas as prefeituras, de cidades do porte de Sete Lagoas, têm esse serviço online e gratuito, Varginha, por exemplo.  Aqui custa R$ 30,31.

Primeiro fui ao setor de protocolos, que fica numa casa ao lado da prefeitura. Lá descubro que essa certidão demora 6 dia úteis. Como não podia esperar, liguei para um amigo, que comumente usa esse serviço e ele me deu alguns atalhos.
Primeiro fui ao setor de IPTU, onde recebi o único sorriso do meu calvário, é uma graça que a alguns escolhidos recebem, quando Deus está olhando.
Do setor de IPTU eles me mandaram ao SAAE. No SAAE fui recebido por um funcionário de um mau humor desgraçado, que me atendeu com cara de poucos amigos e me serviu como se estivesse fazendo um favor.
Do SAAE voltei ao setor de IPTU, de onde fui mandado ao setor de ISS. Quando ainda estava no setor de IPTU, ousei perguntar à funcionária:
_Porquê eles não centralizam essas informações em um único lugar?
_É....mas pensa bem, eles centralizam tudo e onde 10 fazem o trabalho, vai precisar de 1.
 Além de um sorriso, ganhei uma resposta honesta. Se a prefeitura centraliza tudo e depois descobrem que... o prefeito é dispensável?



Continuei minha sina, desta vez no setor de ISS. Cheguei por volta de 10:45. Só havia uma mocinha na portaria, que me encaminhou para outra sala. Lá não encontrei a pessoa que procurava, fui espiando, tentando encontrar alguém. Cheguei na cozinha, onde 4 funcionárias largaram suas marmitas, para me atenderem e fui gentilmente informado, que a pessoa que eu procurava estava almoçando, que deveria voltar à tarde. Ciente que naquele setor, as pessoas sincronizam seus relógios com os peões de fazenda e almoçam na hora do café, voltei ao escritório.  Do meu escritório vejo o enorme prédio da prefeitura, dividido com o Banco do Brasil. Quanta gente deve estar perdida por lá? Boys comemorando aniversário em filas, despachantes enfartados no banheiro, cidadãos mumificados em salas vazias.

Depois do almoço fui ao setor de ISS, lá encontrei a moça que almoça com os peões da fazenda, ela conversava animadamente com outra moça, enquanto mostrava o tamanho do banheiro da casa antiga, onde funciona o setor de ISS.
_Dá pra dormir aí dentro.
Com medo de interromper alguma coisa e que isso fizesse a moça perder o humor e consequentemente a vontade de fazer minhas certidão, mostrei educadamente o protocolo a ela. Ela pegou meu protocolo com uma mão e saiu comendo uma fatia de bolo com a outra. Fixou os olhos no monitor do computador, tirou os sapatos, esfregou os pés e me mandou ao setor de certidões, que fica na prefeitura, o tal prédio. Enchi o bolso de pedrinhas e fui ao setor de certidões, fui marcando o caminho com medo de me perder. Lá um monte de moças, revistas da Natura, Avon, Jequití... por fim, alguém dignou-se olhar para mim. Mostrei o protocolo e ela me mostrou uma mesa, onde uma moça conversava com a outra, um assunto importantíssimo para a administração pública. A cor de esmaltes de unha. Mostrei meu protocolo e ela colocou em cima da mesa e me pediu um momento. Uns 10 minutos depois, ela me mostrou a certidão pronta no editor de textos do computador, contudo...
_A certidão só pode ser retirada no setor de protocolos e o boy saiu agora...


Conformado e informado, que no dia seguinte seria possível retirar a certidão resolvi aguardar o dia seguinte.
No dia seguinte sigo às 9:30 h para o setor de protocolos, lá a mocinha me informa que o sistema estava fora do ar.
_Volta depois do almoço.

Depois do almoço, preparo um comprimido para colocar embaixo da língua e sigo novamente ao famigerado setor. Chego no setor, não havia fila, senti um certo desconforto, porque isso não é bom sinal, na prefeitura de Sete Lagoas se não houver filas, fique preocupado.
A moça pega meu protocolo, confere no sistema e ...
_O pagamento ainda não caiu no sistema.
E me mostrou um decreto colado na parede do lugar, que impedia de liberar minha certidão. Juro que deu vontade de roubar a certidão da mão dela e sair correndo.  



"Se alguma coisa pode dar errado, com certeza dará" em Sete Lagoas, Murphy e Eu.