terça-feira, 4 de outubro de 2011

MEU PRIMEIRO AMOR


A primeira vez que a vi, ela estava de colombina e eu de índio. Ela já esboçava beleza, eu tinha um dente despontando que doía. Minha roupa era um improviso do almoço de domingo, quero dizer as penas. Tempos depois, num aniversário de 15 anos, ela já ganhara a primeira jóia e eu meus primeiro pelos. Ela parecia uma princesa e eu um camponês. Outros anos após, vi ela de carro com cabelos esvoaçantes e eu já perdia alguns pelos, os outros embranqueciam. Domingo encontrei-a no shopping, ela enorme, cabelos com tinta desbotando, cheia de filhos e varizes e um marido mal humorado ao seu lado, a quem fiz questão de cumprimentar e...e agradecer.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

URUCA


Ontem até as 22:15 h minha noite estava perfeita. O Cruzeiro tinha perdido, o Galo estava ganhando de 1x0 do Flamengo, estava num bar vazio, 4 televisões à minha disposição e os garçons me tratavam como rei. 22:16 h entra um sujeito de óculos fundo garrafa, com um rádio enorme, chinelo Rayder, camisa do Galo, bermuda da seleção brasileira. Foi esse cara sentar-se numa mesa próxima à minha, virou sem eu nada perguntar e disse: _ Acidente na BR 381. Eu ri e balancei a cabeça, foi o sinal.
Num instante o cara se transformou num amigo de infância, ousando até provar do meu churrasquinho, pra ver se estava do jeito que ele gosta.
Depois disso ele passou a me contar as suas amarguras:
_Era pra eu estar em casa...hoje é meu aninversário. E me mostrou a carteira de identidade.
_Parabéns. Respondi já preocupado.
_Só que minha sogra está lá em casa, foram colocar uma televisão no quarto dela e cortaram o cabo na NET.
Confirmou o meu receio, um cara que no dia do aniversário, comemora sozinho num bar, porque a sogra está casa dele e sabotou a TV, isso é foda.
Nisso o irmão gêmeo de Pepê e Neném, Ronaldinho Gaúcho, chuta, a bola desvia e ganha o rumo das redes. Os garçons amistosos se transformaram de repente e em coro gritaram: _ Golaaaaço!!!!
Deu vontade de xingar os caras, mas seguindo um conselho do meu amigo Alexandre Barreto me calei “ a gente nunca briga com um cara, que pode cuspir na sua comida.”
Hoje de manhã, passo pela padaria e vejo o sujeito, de táxi.
_Meu carro estragou! Gritou com a cabeça do lado de fora.
“Morre fi” pensei comigo.

terça-feira, 26 de julho de 2011

HOJE É MEU ANIVERSÁRIO


Lembro dos meus aniversários, aquele bolo de glacê azul. Aquele povão dando tapa na minha cabeça e dizendo que eu cresci...
Não sei por que colocávamos os presentes sobre a cama. Aquele monte de meias Lupo, ontem abri um par daquela época.
Meu tio Arnaldo, sempre querendo estimular nossa culpa, ia de chinelo Havaiana, com uma tira de cada cor, camiseta regata e a bermuda de coqueiros. Sempre com aquela frase ensaiada:
_O presente eu mando depois...
Meu tio Lindomar, sempre com presentes inúteis, aquelas agendas, canecos de louça, uma vez ele me deu uma camiseta de um posto de gasolina.
O pior de todos, foi um em que minha Tia Cotinha veio doente ficar na nossa casa, a casa cheia e a minha tia lá, sentada, totalmente esclerosada, xingando palavrões.
Tio Nescésio, orgulhoso do seu problema de próstata, cantando aos quatro cantos que seu mal é fruto de doença venérea mal curada. Sofre de incontinência urinária, usa fraldão e sua cadeira também especial, é forrada com um impermeabilizante importado ,Protect All, comprado no 09001. Ano passado tentaram curá-lo, o velho ficou enterrado por 12 horas na praia da areia preta em Guarapari, as areias monazíticas possuem propriedades medicinais tidas como milagrosas, mas de nada adiantou. Adora contar aos mais novos as suas proezas sexuais, como no dia em que numa noite só, transou com uma tailandeza praticante de pompoarismo que abria uma garrafa de champanhe de um modo nada convencional, com uma francesa que trabalhava num circo como engolidora de fogo que o chamava de “Mon Cheval!” “Meu cavalo!”, e uma padeira portuguesa que fazia amor cantando o “Vira”. “Bons tempos aqueles!” Repete ele com os olhinhos verdes molhados, toda vez que conta essa história.

Tio Claudionor, o impotente, com aquela cara de cantor de tango. Casado com minha Tia Helma, queimando as crianças com a ponta do cigarro.
Sei que no meio da festa minha mãe resolve mostrar as jóias da minha tia Cotinha à uma amiga e descobre que as mesmas foram roubadas.
Para variar acusaram o meu tio Arnaldo, coitado, só porque estava desempregado...bom deixa porque até eu que era pequeno puxei o corinho:
_Foi tio Arnaldo, foi tio Arnaldo!
O clima ficou péssimo na nossa casa. E pioraria. Numa manhã, minha mãe colocava roupas no varal quando Adelaide, nossa empregada, passou enrolada numa toalha saindo do banho em direção ao seu quarto. Minha mãe olhou e soltou um grito:
_É a meia! Eu conheço essa meia!
Adelaide trazia os cabelos enrolados e presos numa meia , coisa que mulher faz de vez em quando, principalmente as auxiliares do lar.
_É a meia das jóias.
Acontece que como a caixa que guardava as jóias de tia Cotinha estava muito velha, cheia de buracos, minha mãe pegou a caixa e colocou numa meia dessas finas de mulher. E era justamente essa meia que Adelaide trazia prendendo os cabelos. Em minutos todos estavam ali fora, minha mãe pegou Adelaide foi pro quarto dela e trancou a porta. Ficaram ali conversando por duas horas. Quando enfim a porta se abriu...
Lá dentro do  quarto ela confessou o crime, em troca de não denunciá-la para a polícia.  Adelaide devolveria as jóias e abdicaria de todos seus direitos trabalhistas.



1  O 0900 era um serviço de vendas pelo telefone muito utilizado pela minha família.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

SOBRE O TEMPO E AS COISAS DA VIDA


Estamos vivendo a era do mito tecnológico, que cria a ilusão de que a ciência pode tudo, inclusive nos tornar imortais. Com isso abandonamos os verdadeiros mitos, aqueles que nos impulsionam, nos lembram que mesmo na finitude somos capazes de coisas maravilhosas e não a falsa idéia, de que podemos comprar tudo, inclusive a felicidade.
Discutia, entre um chopp e outro com um amigo, sobre como as sociedades avançaram na 1ª e 2ª guerra. É evidente, que a ciência correu contra o tempo, mas para mim os exemplos positivos são mais importantes para nossa evolução, que a bomba atômica e outras burrices humanas.
O cara que salvou um monte de judeus, a criança que mesmo morando num porão aprendeu a tocar piano, o médico que encarou as tropas nazistas para salvar pacientes, o torturado que perdoou o torturador, esses são os verdadeiros mitos que devemos seguir. São esses exemplos positivos, que tornaram o mundo pós guerra  um pouco mais humano.
Não existe cura artificial para a infelicidade e melhor, só um idiota é 24 horas por dia feliz, assim como, só um doente é 30 dias por mês infeliz. A tristeza faz parte da existência, seja pela perda, pela desilusão, para isso não existe remédio, mas aí entra o tal mito tecnológico, as pessoas entregam o seu destino à panacéia moderna, os antidepressivos, caem num buraco e não saem mais.

Nossa sociedade está sob essa nuvem, porque paramos de fazer o que é verdadeiramente importante, ouvir os velhos e as crianças por exemplo, não temos tempo mais pra isso. A importância de ouví-los está no fato, de que eles não estão contaminados pelos falsos mitos. Quem nunca ouviu algo parecido: Para todo mundo ser feliz, pega tudo de todo mundo, junta e divide igual.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

PLUNCT PLACT ZUM

Tem que ser selado, registrado, carimbado, avaliado, rotulado se quiser voar! (Raul Seixas)



Hoje precisei de um serviço básico da prefeitura, uma certidão negativa de débitos tributários. Essa certidão serve para provar, que eu, cidadão, não tenho dívidas com a bendita.
Primeiro fui ao site da prefeitura, onde, depois de um arrepio frio da ponta da coluna ao cerebelo, descobri que esse documento não poderia ser extraído diretamente do site. Detalhe quase todas as prefeituras, de cidades do porte de Sete Lagoas, têm esse serviço online e gratuito, Varginha, por exemplo.  Aqui custa R$ 30,31.

Primeiro fui ao setor de protocolos, que fica numa casa ao lado da prefeitura. Lá descubro que essa certidão demora 6 dia úteis. Como não podia esperar, liguei para um amigo, que comumente usa esse serviço e ele me deu alguns atalhos.
Primeiro fui ao setor de IPTU, onde recebi o único sorriso do meu calvário, é uma graça que a alguns escolhidos recebem, quando Deus está olhando.
Do setor de IPTU eles me mandaram ao SAAE. No SAAE fui recebido por um funcionário de um mau humor desgraçado, que me atendeu com cara de poucos amigos e me serviu como se estivesse fazendo um favor.
Do SAAE voltei ao setor de IPTU, de onde fui mandado ao setor de ISS. Quando ainda estava no setor de IPTU, ousei perguntar à funcionária:
_Porquê eles não centralizam essas informações em um único lugar?
_É....mas pensa bem, eles centralizam tudo e onde 10 fazem o trabalho, vai precisar de 1.
 Além de um sorriso, ganhei uma resposta honesta. Se a prefeitura centraliza tudo e depois descobrem que... o prefeito é dispensável?



Continuei minha sina, desta vez no setor de ISS. Cheguei por volta de 10:45. Só havia uma mocinha na portaria, que me encaminhou para outra sala. Lá não encontrei a pessoa que procurava, fui espiando, tentando encontrar alguém. Cheguei na cozinha, onde 4 funcionárias largaram suas marmitas, para me atenderem e fui gentilmente informado, que a pessoa que eu procurava estava almoçando, que deveria voltar à tarde. Ciente que naquele setor, as pessoas sincronizam seus relógios com os peões de fazenda e almoçam na hora do café, voltei ao escritório.  Do meu escritório vejo o enorme prédio da prefeitura, dividido com o Banco do Brasil. Quanta gente deve estar perdida por lá? Boys comemorando aniversário em filas, despachantes enfartados no banheiro, cidadãos mumificados em salas vazias.

Depois do almoço fui ao setor de ISS, lá encontrei a moça que almoça com os peões da fazenda, ela conversava animadamente com outra moça, enquanto mostrava o tamanho do banheiro da casa antiga, onde funciona o setor de ISS.
_Dá pra dormir aí dentro.
Com medo de interromper alguma coisa e que isso fizesse a moça perder o humor e consequentemente a vontade de fazer minhas certidão, mostrei educadamente o protocolo a ela. Ela pegou meu protocolo com uma mão e saiu comendo uma fatia de bolo com a outra. Fixou os olhos no monitor do computador, tirou os sapatos, esfregou os pés e me mandou ao setor de certidões, que fica na prefeitura, o tal prédio. Enchi o bolso de pedrinhas e fui ao setor de certidões, fui marcando o caminho com medo de me perder. Lá um monte de moças, revistas da Natura, Avon, Jequití... por fim, alguém dignou-se olhar para mim. Mostrei o protocolo e ela me mostrou uma mesa, onde uma moça conversava com a outra, um assunto importantíssimo para a administração pública. A cor de esmaltes de unha. Mostrei meu protocolo e ela colocou em cima da mesa e me pediu um momento. Uns 10 minutos depois, ela me mostrou a certidão pronta no editor de textos do computador, contudo...
_A certidão só pode ser retirada no setor de protocolos e o boy saiu agora...


Conformado e informado, que no dia seguinte seria possível retirar a certidão resolvi aguardar o dia seguinte.
No dia seguinte sigo às 9:30 h para o setor de protocolos, lá a mocinha me informa que o sistema estava fora do ar.
_Volta depois do almoço.

Depois do almoço, preparo um comprimido para colocar embaixo da língua e sigo novamente ao famigerado setor. Chego no setor, não havia fila, senti um certo desconforto, porque isso não é bom sinal, na prefeitura de Sete Lagoas se não houver filas, fique preocupado.
A moça pega meu protocolo, confere no sistema e ...
_O pagamento ainda não caiu no sistema.
E me mostrou um decreto colado na parede do lugar, que impedia de liberar minha certidão. Juro que deu vontade de roubar a certidão da mão dela e sair correndo.  



"Se alguma coisa pode dar errado, com certeza dará" em Sete Lagoas, Murphy e Eu.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

MINHA COLEÇÃO PREDILETA


Sou um colecionador de bares, quanto mais estranho e simplório mais me afeiçôo. Adoro aqueles onde ainda existem garrafas de pinga com escorpiões, cobras, ervas, sementes...
Daqueles que não têm cardápio, nem 10%, cujos preços e mercadorias desatualizados estão numa tabela da SUNAB, empoeirada, onde ainda se lê Mirinda, Grapete, Gato Preto e outras espécies extintas.

Onde não existe aparelho de som e sim, um radinho chiando, que parece trazer a música do passado e a Bossa Nova só vai chegar no ano que vem. O rádio só serve para se conferir o bicho, feito ali mesmo no balcão.

Tem que ter pipoca Guri, bala Chita de uva, salgadinho Aritana,Banda e pirulito Zorro.
Tem que ter a taça de futebol, de um campeonato que nunca existiu e tem que ter o cara que diz, que Maradona foi melhor que Pelé, mas Genoíno do Democrata...




O dono tem que emprestar o casco, vender fiado e não saber fazer outra coisa na vida, porque não existe coisa pior, que o dono do bar inventar de trocar de profissão.

A prosa é sempre boa, a economia sempre instável, o prefeito sempre frouxo e tem sempre alguém mandando o presidente à puta que o pariu.

Boteco bom tem que ter um cara que dizem ser um gênio da matemática, mas se perdeu na cachaça.


Ali se combina a pintura da geladeira, pescarias, o empréstimo de grana e se fala da vida alheia, até para se esquecer da própria vida.
Precisa ser de esquina e ter sempre um ex-médico alcoólatra que realiza passeios noturnos, matutinos e vespértinos indo e não voltando do boteco.
Tem que ter o cara que toma Caracu com ovo, tem que ter a solteirona que bebe mais que homem e sobe em cima da mesa, que todo mundo suspeita ser sapata e o PM corno.


Gosto daquelas bitacas que estão eternamente em reforma e o pedreiro já virou um funcionário. No final esse pedreiro acaba acumulando tantos atrasados, que por fim se torna sócio do negócio, ou acaba fugindo com a mulher do PM corno.  
O meu favorito é um que vende carne da capivara, mas que de madrugada todo mundo vê o dono espantando os cachorros...pra dentro do bar.


quarta-feira, 1 de junho de 2011

PASTOR HIGHLANDER

"Esse monstro me enganou", até imagino já esse título no Super de qualquer dia desses.

SOBRE A CRIAÇÃO DOS NOSSOS FILHOS

Quinoo cartunista argentino autor da Mafaldadesiludido com o rumo deste século no que diz respeito a valores e educação, deixou impresso no cartum o seu sentimento







sábado, 14 de maio de 2011

LEMBRANÇAS COLEGIAIS


No meu tempo, namorada não transava, na verdade a gente nem podia chamar aquilo de namoro, era mais uma conversa na sala, até o pai passar de pijama, olhando o relógio e fechando as janelas. Por isso, fervíamos na solidão dos banheiros, com nossas revistas, traficadas e compartilhadas solidariamente entre amigos. Mãos trêmulas folheando páginas lentamente, para não gastar as fotos... Nem gosto de lembrar desses castos tempos... E o pior, era a confissão mensal no colégio dos padres, onde o Monsenhor tinha um prazer especial, em saber nossas estripulias sexuais. Inclusive de Ganda, nosso colega, que era o mais contumaz dos onanistas, também o mais exótico, chegando a se “alegrar” com a She-Ra do He Man. Isso levava o Monsenhor  a se benzer, toda vez que passava pelo menino. Um caso perdido...


Outra alternativa, eram as casas de mulheres de vida fácil, Dora, Pretinha, Querosene, Baleia, Barril, KM2, Sonho Azul.  Nunca gostei do nome zona, me parece impuro demais.
Paulo Monteiro, nosso professor de educação física, já nos alertara sobre os perigos das doenças venéreas, inclusive, nos ensinara um método nada ortodoxo, de purificação pós sexo, que usava uma escova de roupa e sabão de coco. Terminada a relação, tínhamos que esfolar sumariamente o “companheiro”, com a escova e farta espuma de sabão. Muitos morreram virgens, por conta dessa aula.



Uma vez depois de uma ida numa casa de tolerância, cismei que tinha pegado alguma coisa. Todo mundo tem um colega especialista em doenças venéreas, na minha época era o Couto. Ele me olhou com cara séria e sentenciou:
_Tá coçando...isso é mula! Dez injeções de bezetacil das bezerras.
Quase morri, não porque soubesse o que era mula, mas devia ser terrível, para ter esse nome.
“Como vou explicar isso lá em casa?” sai pensando da consulta. Naquele tempo não tinha Google para nos salvar e a primeira hipótese que veio à minha mente, foi a de perder meu “companheiro”, engolido pela mula.


Discretamente me dirigi a uma farmácia onde meu pai tinha conta, fiquei ali trançando, olhando o preço de um creme Rinse, testando um desodorante, perguntando o preço disso, daquilo...Até que o farmacêutico, um velhinho de jaleco, já irritado, me perguntou:
_Moço, olhar não paga, mas o que você quer?
_Dez ampola de Bezetacil é pro meu cachorro! Falei.
O cara me olhou espantado, mas já acostumado com a automedicação dos adolescentes, deu um sorriso sarcástico, fez o embrulho e me entregou, assinei a nota e corri pra casa.


Em casa de injeção pronta, pensei em me auto-aplicar pulando de bunda na injeção. Até que numa observação microscópica, percebi um monte de bichinhos andando pelos meus pelos pubianos. Era a provável origem da coceira. Voltei no Couto.
_Chato, são carrapatos minúsculos, vai coçar até te enlouquecer, se não chuparem seu sangue até a anemia profunda, você morre em 128 dias, o jeito é o banho de imersão em um tambor de óleo queimado.
Com 14 anos eu só tinha exatos 128 dias de vida, conforme o Couto, caso não perdesse a razão antes e aluasse para sempre, pelo menos não era mula, eqüina comedora de bilaus.

Ia pra casa, triste, preocupado, quando por uma iluminação divina, passei por Luquinha da carroça, dono de vários cavalos, entendedor de coisas da roça.
_Luquinha, seus cavalos dão muitos carrapatos?
_Vixe, até cair a orelha.
Cair a orelha não foi nada bom, mas continuei:
_E como você trata?
_Na farmácia tem tem um remédio muito bão, carrapaticin.
Voltei à farmácia:
_O senhor tem carrapaticin?
_Tenho, é pro cachorro? Perguntou o mesmo farmacêutico, sorrindo novamente.
_Não é pro cavalo, tá assim de carrapato. Falei dando uma coçadinha.
-Ah, some daqui moleque e fala pro seu pai, para parar de levar os bichos dele na zona.
Minha cara caiu. Voltei correndo pra casa e nos desespero, peguei o  Moderato da empregada e borrifei com força, no outro dia não tinha nenhum chato vivo. Até pouco tempo eu pensava que o termo Roll On, era por essa causa. Bons tempos esses...







segunda-feira, 2 de maio de 2011

O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

EUA matam pai de 20 filhos e 70 netos...onde a violência vai parar?

Vaginaldo Pinto direto de Islamabad

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sexta-feira, 29 de abril de 2011

NOS BASTIDORES DO CASAMENTO DE WILLIAM E KATE


Por que bilhões de pessoas – brasileiros, argentinos, americanos, guatemaltecos, bolivianos, indonésios, gregos, turcos, armênios etc. etc. – passaram horas diante de suas TVs acompanhando o casamento de William e Kate? Tirando alguns gatos pingados que ainda simpatizam com a monarquia – aí incluo meu primo Rodofilnho, bailarino e coreógrafo, que se veste de barbie todo carnaval –, a esmagadora maioria dos telespectadores e leitores que se deliciaram com a festa, é movida pelo mesmo sentimento, que nos faz ficar 2 horas na TV assistindo Robin Hood, mesmo já conhecendo a história e sabendo do final, ou seja, eu não sei.

Os novos duques de Cambridge anunciaram o "sim" no altar principal da Abadia de Westminster e em seguida o arcebispo de Canterbury os declarou marido e mulher...

Deixando o romantismo de lado, temos que primeiro dizer, que Kate acha que aplicou o golpe do baú do século, em compensação o príncipe em breve vai ficar com a cara do Rogério Ceni ou o Kiko do Chaves Loiro.



Bom a história que foi contada à bilhões de pessoas no mundo, todo mundo sabe e essa não interessa aos leitores desse blog, por isso enviamos a Londres, Vaginaldo Pinto,que vai contar os bastidores da festa real, os porões da aristocracia inglesa e o que acontece de realmente interessante na festa da realeza britânica.
Primeiro, o segredo da longevidade da rainha, nas primeiras horas das manhãs de sexta-feira, a rainha após o desjejum, toma 2 doses de gin Bombay Sapphire e entra numa banheira de esperma de cavalo selvagem de Przewalski, o que mantem a pele da rainha sempre jovem e hidratada.

A rainha sai da banheira e diz:
_Vamos encarar a onça, o reino já foi invadido. O banquete real já foi servido e degustado. O bobo da corte já foi descabelado. O cetro real já foi lustrado. A plebéia já sentiu o peso da realeza. A espada real já trabalhou nessa conquista. O cisne já foi afogado.

A rainha se refere ao fato de que, 
Kate e William se conheceram quando estudavam na Universidade Saint Andrews, na Escócia e antes do casamento, viveram juntos por 7 anos, por isso a cauda curta do vestido.

A festa oficial tem aquela pompa toda, mas a festa real mesmo acontece às 2 da matina, depois que os seguranças do palácio colocam o último convidado bêbado pra fora.

A festa começa com o discurso do Big Forehead, o Testão, que profere o juramento da sociedade secreta de Luxor, e ao final  grita:
_Comigo é cinco na garrucha troxada, que comece o festim!
 Nessa hora negões da tribo Tútsis entram completamente nus, trazendo nas mãos bandejas com Anões besuntados  de manteiga, ao som de trompetes da real guarda britânica. Aliás é a parte predileta da rainha, lógico que não pelos anões...

E nessa hora, ninguém é de ninguém...

No final o princípe Charles de cinta liga, com dois vibradores enfiados na orelha, anuncia o fim da festa, até o próximo casamento.

A rainha dorme feliz nos seus travesseiros de pena de ganso, enquanto os dois negões são levados pelo Samu britânico em disparada, pelas ruas de Londres...
 
Vaginaldo Pinto, direto de Londres, para o blog Ilegilândia.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

OSMAR O MENINO QUE CALCULAVA


O shopping Sete Lagoas me revela surpresas, sempre encontro ali pessoas que não via há muito, sempre piso no passado naqueles corredores.

Outro dia estava na praça de alimentação e uma família me chamou a atenção, todos gordos, mas o rosto da mulher me fez viajar, havia um traço de beleza familiar naquelas curvas, o que me fez pegar um trem para o passado.

1978... Minha sala de aula. Sibeli a menina mais bonita, minha primeira paixão adolescente. Naquele tempo as meninas da minha idade gostavam de homens mais velhos, quando fiquei mais velho, elas passaram a gostar de rapazes mais novos. Essa sensação de ter nascido na época errada sempre me perseguiu.

Osmar, um menino esquisito, magrelo, pálido, a quem deram o apelido de Lombrigão, naquele tempo bullying era normal, quase obrigatório. Lembro da minha mãe me falando: “Vai com ele pra aula, coitado, ele parece tão solitário”

Eu tinha um pavor de matemática e até hoje tenho pesadelos, com uma prova que não consigo terminar. O que piorava a coisa, era que meu pai era louco para ter um filho engenheiro, aquilo era uma pressão enorme, porque eu sempre me saira melhor, com palavras, que com números. Eu sabia que Osmar era ótimo em matemática, pensei em tirar algum proveito daquela convivência.

Todo dia Osmar passava em minha casa, sapato Vulcabrás brilhando, camisa dentro da calça, óculos fundo garrafa e aquele cabelo ruivo penteado com glostora. E completando o quadro, aqueles olhos de gato pedindo peixe "Por Favor Goste de MIM. De certa forma Osmar virou um amigo, na verdade era uma troca, Osmar não tinha amigos e ele acalmou a minha convivência com os números, me dando aulas particulares.

Num desses dias Osmar chegou, vermelho como uma maçã e me deu um presente.
_Toma é para você. Era uma calculadora. Agradeci, mas não sabia usá-la direito. Osmar sempre prestativo me deu todas as dicas e ainda me ensinou a escrever algumas palavras usando os números, e a seguir invertendo a calculadora: BELOS( 50738) SEIOS (50135) SELO(0735)... E uma outra infinidade de palavras.
Em troca dei-lhe um vidro de Emulsão de Scooth, falei que ele devia tomar todo dia, que logo estaria robusto.

Sibeli continuava sendo meu amor platônico e da maior parte dos meus colegas. Teve até um menino, o Nogueira, que diziam estar pagando a mensalidade dela, de tanta paixão. Depois como o amor não foi correspondido, ele tentou suicídio, tomando um litro de Pinho Sol, por isso, ganhou o apelido de “Boca de Bidê”.
O tempo passou...E Osmar começou a se transformar, o óleo de fígado de bacalhau parecia funcionar, ou talvez, pela primeira vez na vida o coitado se sentia seguro. Um dia foram os óculos substituídos por lentes de contato. Depois os cabelos foram penteados de modo mais conveniente para o nosso século. E por incrível que pareça o menino engordou, eram notáveis os bíceps justos na manga da camisa. E por falar em camisa, as roupas! Tudo novo. Bem vindo a 1978, era o que dava vontade de dizer ao olhar o menino.
Meu peito explodia quando via Sibeli e para dividir essa dor, contei para Osmar, ele ficou calado enquanto ouvia, ruborizado, apenas balançando a cabeça.

Duvido que alguém consiga decifrar o cérebro feminino, descobri isso bem cedo e a duras penas. Um dia voltando do intervalo, desanimado, com a falta de coragem de me declarar à Sibeli, procuro ansioso a menina na sala, ela não estava, mas fiquei horrorizado quando cheguei na minha carteira.
Minhas coisas espalhadas sobre o móvel, minha calculadora ligada e no visor da máquina: 173815. Inverti a calculadora e completei meu espanto: “SIBELI”! Corri para o pátio... e ainda consegui ver uma ponte de saliva brilhando ao sol, unindo lábios... Sibeli e Osmar...

Voltei para a sala arrasado.  Peguei a calculadora, olhei os números ainda em choque, à cabeça me veio uma única palavra...0.808 =BOBO. 

Voltando aos nosso dias, ainda parado na minha mesa, dividido entre o passado e o presente, cruzamos os olhares. Sibeli me olhou, como se pedisse desculpa pela sua aparência, um olhar envergonhado. Eu ao ver aquela dona, com aquela meninada, todos gordos, cheios de gorduras saturadas, pequenos cardíacos sorridentes, empanturrados de Girafa´s, Bob’s, Milk Shakes.Senti um arrepio, um alívio... Levantei meu copo de chope e fiz um brinde ao tempo...Lombrigão me salvou.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

O SONHO DE ÍCARO



Jorjão Borracheiro, dos que assistiram foi o único que aceitou falar pro Jornal Folha da Tarde:
_Tem complicados e complicados...
Enquanto limpava a mão na estopa molhada de Thinner:
_Tem gente que acha que o nome no SPC e Serasa é o fim do mundo. Tenho um amigo aqui, o Linguiça, que se ficar broxa, será um defunto insepulto. Conheço gente que não come sem carne, como tenho um cliente, que se tiver carne, não come. Esse menino não queria andar, então cismou de voar.
Jorjão falava do meu primo Boaventura...


Essa história passou-se em Corinto/MG. Boaventura nasceu feio. Essa foto não é dele, é que como era muito feio, o pai, envergonhado, comprou essa foto e dizia que era Boaventura, quando pequeno. Com três anos Jorge Boaventura já tinha barba a bigode e a calva já luzia no sol do meio dia. O pai de Boaventura, Armando das Frangas, diante da feiúra do filho pensou:

 _Vou ganhar dinheiro com esse menino.

E proclamou Boaventura um novo profeta. Todo dia Das Frangas levava o menino, montava um palquinho e Boaventura ficava ali, fazendo previsões:

_ No dia que o sol nascer e a luz tocar a areia do deserto, a velha com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar, (daí Raul tirou a letra daquela música) triunfará e no fim, o rei reinará.

Dito por um menino barbado e careca aquilo soava catastrófico e o povo queria saber mais. Aí Das Frangas passava a pequena cesta e recolhia a grana da feira. Boaventura fez sucesso assim uns dois dias, depois, com a rotatividade de aberrações, que comumente apareciam em Corinto, Boaventura foi ofuscado pela Samira, uma cartomante que trazia de volta o amor perdido em dois dias e em seguida, pelo bezerro de duas cabeças.



A vida de Boaventura foi assim, um acúmulo de complexos e humilhações, até o dia em que ele viu no céu de Corinto, um avião. Aquilo para ele foi a coisa mais linda que viu na vida. Potencializou todos os complexos adquiridos pela feiúra e jurou que ia voar. Trancou-se no porão de casa e ficou ali, com uma vasta literatura sobre aviação. Meses marcaram o calendário e nada do Boaventura sair do porão. Até que meu tio Das Frangas meteu o pé na porta, sorte de Boaventura que a sua invenção estava pronta, um par de asas!

Boaventura saiu do porão  com asas de estilo morcego amarradas nas costas:

_Tá tudo calculado, só falta testar.

Cidade pequena tem muito mais gente à toa e num instante formou-se uma turba. Nem na festa do Rosário formava-se uma procissão tão grande.  

Boaventura seguia na frente, só de zorbinha e o par de asas e atrás o povo. Boaventura olhava os prédios da cidade, procurando um ponto com altura ideal, até que avistou a torre da igreja.

Passou pela barbearia do Saul, pelo Hotel Soraya (toda cidade pequena tem o seu com esse nome) e ao passar pelo bar do Saúva, deu de cara com o nosso primo Roberval, poeta de quatro costados, figura consagrada pela academia Corintiana de Letras.

Roberval apenas disse: _ Eis o Sonho Ìcaro, voar, voar, subir, subir, ir por onde for, descer até o céu cair.

Poema que depois seria musicado por Biafra, com quem meu primo Roberval luta na Justiça pelos direito autorais, tem uns 30 anos.

Roberval pediu um conhaque, que só bebia nos momentos de grande inspiração e falou pro Saúva, que deixava Roberval beber de graça em troca de poemas para as namoradas:

_Traga papel...muito papel, uma Bic e mais um conhaque.

Passador alguns minutos, surge Boaventura no alto da torre da Igreja. O Povo aplaude, alguém grita: _Galôôô!

No que responde a outra metade: _ Zêroooo!

A coisa virou um misto de expectativa e show.

De repente...Boaventura molha um dedo na boca, levanta, mede a direção do vento, tira a cueca que enfiou nas bochechas da bunda, enquanto ele subiu as escadas apertadas de Igreja, abre os braços e ...pula!
_Um anjo! Disse novamente o primo Roberval dessa vez já rascunhando num guardanapo um poema.



Não voou meio metro e rachou no chão. Já febril e delirante, Boaventura teve uma visão, uma cadeira rodas no meio de um deserto, foi quando sentiu uma certa paz, um êxtase, olhou pra baixo e um cachorrinho estava a lamber-lhe as gônadas. 

Boaventura nunca mais falou, andou ou fez outro movimento, passou o resto da vida entrevado numa cama, para se comunicar, piscava uma vez para sim e duas, para não.
Lembro-me de ainda pequeno ter ido visitá-lo e na minha curiosidade inocente de criança, olhei o primo tolhido daquela forma e perguntei:

_Será que doeu?

No que ele piscou uma vez, com os olhos cheinhos de lágrimas