sexta-feira, 15 de abril de 2011

OSMAR O MENINO QUE CALCULAVA


O shopping Sete Lagoas me revela surpresas, sempre encontro ali pessoas que não via há muito, sempre piso no passado naqueles corredores.

Outro dia estava na praça de alimentação e uma família me chamou a atenção, todos gordos, mas o rosto da mulher me fez viajar, havia um traço de beleza familiar naquelas curvas, o que me fez pegar um trem para o passado.

1978... Minha sala de aula. Sibeli a menina mais bonita, minha primeira paixão adolescente. Naquele tempo as meninas da minha idade gostavam de homens mais velhos, quando fiquei mais velho, elas passaram a gostar de rapazes mais novos. Essa sensação de ter nascido na época errada sempre me perseguiu.

Osmar, um menino esquisito, magrelo, pálido, a quem deram o apelido de Lombrigão, naquele tempo bullying era normal, quase obrigatório. Lembro da minha mãe me falando: “Vai com ele pra aula, coitado, ele parece tão solitário”

Eu tinha um pavor de matemática e até hoje tenho pesadelos, com uma prova que não consigo terminar. O que piorava a coisa, era que meu pai era louco para ter um filho engenheiro, aquilo era uma pressão enorme, porque eu sempre me saira melhor, com palavras, que com números. Eu sabia que Osmar era ótimo em matemática, pensei em tirar algum proveito daquela convivência.

Todo dia Osmar passava em minha casa, sapato Vulcabrás brilhando, camisa dentro da calça, óculos fundo garrafa e aquele cabelo ruivo penteado com glostora. E completando o quadro, aqueles olhos de gato pedindo peixe "Por Favor Goste de MIM. De certa forma Osmar virou um amigo, na verdade era uma troca, Osmar não tinha amigos e ele acalmou a minha convivência com os números, me dando aulas particulares.

Num desses dias Osmar chegou, vermelho como uma maçã e me deu um presente.
_Toma é para você. Era uma calculadora. Agradeci, mas não sabia usá-la direito. Osmar sempre prestativo me deu todas as dicas e ainda me ensinou a escrever algumas palavras usando os números, e a seguir invertendo a calculadora: BELOS( 50738) SEIOS (50135) SELO(0735)... E uma outra infinidade de palavras.
Em troca dei-lhe um vidro de Emulsão de Scooth, falei que ele devia tomar todo dia, que logo estaria robusto.

Sibeli continuava sendo meu amor platônico e da maior parte dos meus colegas. Teve até um menino, o Nogueira, que diziam estar pagando a mensalidade dela, de tanta paixão. Depois como o amor não foi correspondido, ele tentou suicídio, tomando um litro de Pinho Sol, por isso, ganhou o apelido de “Boca de Bidê”.
O tempo passou...E Osmar começou a se transformar, o óleo de fígado de bacalhau parecia funcionar, ou talvez, pela primeira vez na vida o coitado se sentia seguro. Um dia foram os óculos substituídos por lentes de contato. Depois os cabelos foram penteados de modo mais conveniente para o nosso século. E por incrível que pareça o menino engordou, eram notáveis os bíceps justos na manga da camisa. E por falar em camisa, as roupas! Tudo novo. Bem vindo a 1978, era o que dava vontade de dizer ao olhar o menino.
Meu peito explodia quando via Sibeli e para dividir essa dor, contei para Osmar, ele ficou calado enquanto ouvia, ruborizado, apenas balançando a cabeça.

Duvido que alguém consiga decifrar o cérebro feminino, descobri isso bem cedo e a duras penas. Um dia voltando do intervalo, desanimado, com a falta de coragem de me declarar à Sibeli, procuro ansioso a menina na sala, ela não estava, mas fiquei horrorizado quando cheguei na minha carteira.
Minhas coisas espalhadas sobre o móvel, minha calculadora ligada e no visor da máquina: 173815. Inverti a calculadora e completei meu espanto: “SIBELI”! Corri para o pátio... e ainda consegui ver uma ponte de saliva brilhando ao sol, unindo lábios... Sibeli e Osmar...

Voltei para a sala arrasado.  Peguei a calculadora, olhei os números ainda em choque, à cabeça me veio uma única palavra...0.808 =BOBO. 

Voltando aos nosso dias, ainda parado na minha mesa, dividido entre o passado e o presente, cruzamos os olhares. Sibeli me olhou, como se pedisse desculpa pela sua aparência, um olhar envergonhado. Eu ao ver aquela dona, com aquela meninada, todos gordos, cheios de gorduras saturadas, pequenos cardíacos sorridentes, empanturrados de Girafa´s, Bob’s, Milk Shakes.Senti um arrepio, um alívio... Levantei meu copo de chope e fiz um brinde ao tempo...Lombrigão me salvou.

6 comentários:

  1. Já está famoso. Na banca de revistas, me intimaram a ler seu ultimo post. Como se eu já não lesse quase todo dia...
    O pior é que vc. deve ser cruzeirense, pq. só homens é que mandam ler seu blog e a maioria é homem aqui no pedaço. Cuidado amigo... Foi assim que a Roberta Close começou... kkkkk!

    ResponderExcluir
  2. Quê isso Chicão?!!! As mulheres também estão por aqui....kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    ResponderExcluir
  3. Oi amor, fala pro Chicão que vc é ATLETICANOOOOOOOO, e que por aqui tem mulher sim.
    Mais uma história fantástica, só me fala uma coisa o que é glostora, é um tipo de mousse?

    ResponderExcluir
  4. CARO TORONTUS ABELENENSES PROFANUS

    ESTA ME LEMBROU GANDA COM SEU MI MI MI, E ESTA MENINA SE NAO ME ENGANO FOI M..A, NOME DE 4 LETRAS,QUE PASSAVE AQUELA CANETA ESFEROGRAFICA E NOS LEVARA A LOUCURA, E TENHO DITO, O CRUZEIRO É MAIOR QUE TUDO E QUE TODOS SÓ NAO É MAIOR QUE DEUS, JACTA EST!!

    ResponderExcluir
  5. FANTÁSTICO!!!!!!!!!!!!!!!!!

    ResponderExcluir