quinta-feira, 31 de março de 2011

UMA DOLOROSA DERROTA


No caminho do consultório a propaganda de um Outdoor dizia: Clident - Aqui Ninguém sai como entra - E mostrava Malu Mader sorrindo na foto, "Eita mulherão!" pensa...

Já na recepção percebia-se a apreensão de todos. Quatro pacientes com jornais no rosto, colados, escondidos. A música de flautas andinas tocava baixa, antevisando o trágico, a certeza de que ninguém sai dali como entra. Uma série de preocupações fustigam a cabeça do indivíduo, mas a maior, é o medo de encontrar algum conhecido. Claro que naquele prédio de clínicas, pelo menos a esposa grávida de um fulano ou cicrano estaria por ali às voltas com um ultrassom. Nem mesmo os óculos escuros seriam capazes de disfarçar, nem uma capa de detetive, nem o bigode de Sarney...

O indivíduo entra na sala, o médico nem olha no rosto, apenas aponta uma camisola e manda que vista. A única coisa que olha é as mãos do doutor, para ser mais preciso o dedo indicador. A música andina continua lá fora, mas penetra na sala, como se fosse aqueles perfumes da Avon, aquela colônia predileta de Maria, a doméstica de casa.

O médico indica-lhe a posição. Agora sim a humilhação é completa, pela janela o sujeito mira a serra de Santa Helena, tenta concentrar-se no cruzeiro, pedindo a Deus que faça o tempo correr. A flauta andina prossegue, toca  "Como é grande o meu amor por você" do Roberto, eu tenho tanto pra te falar...O médico calça as luvas... A serra continua como o lombo de uma mulata do Di Cavalcanti...O doutor aproxima-se...a Serra...a Serra escurece...cinzenta como a descarga de um FêNêMê... Huuuuum

Como é GRANDE o meu amor, por você...

"Aqui ninguém sai como entra", reverbera na cabeça do sujeito. Malu Mader gargalha. O médico gira o dedo, como a gente faz quando raspa o resto de iogurte no pote.

Termina o exame. O sujeito veste a roupa, senta na cadeira, as pernas bambas balançam nervosas. Um pequeno alívio, o médico, como se não houvesse feito nada importante, diz que o sujeito não tem nada e sorri, aquele sorriso soa, como se tirasse um cigarro, soltasse a fumaça e dissesse: "foi bom pra você também?". O indívíduo levanta-se mais que depressa, sai sem se despedir, passa correndo pelo corredor e no elevador encontra um velho amigo. "Como vai?", "Vou bem", "Médico?", "É..." "De quê?" "Ah...Cardiologista!" "Algum problema?" "Nenhum" a porta do elevador se abre e o cara sai correndo pro carro. Entra suando, o velho conhecido passa por ele e diz: "Se fosse você pedia uma segunda opinião." "É talvez...talvez". Acelera o carro e segue, doido para chegar em casa, já está mais calmo, abre a janela e sente o vento no rosto, repara o rosto anguloso e austero do guarda, nos braços fortes do carregador das Casas Bahia... sente um arrepio percorrer o corpo, no rádio, que acabou de ligar, toca "I will survive".    " Segunda opinião ...é talvez seja certo mesmo!" No Outdoor Malu ainda sorri..."Batom bonito" pensa o nosso amigo.

2 comentários:

  1. caro Afranio Ebeneser Torontus Magnificus,infelizmente é o teste que todos nós homens temos que passar, parabens pela ode bangalõriana, e no mais vc disse que jogamos contra uma baba, pior foi vc´s que perderam pra uma baba ontem, jacta est, in hoc signo vinces!!

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  2. O fim de todos nós é esse mestre Coutus, ontem foi um passo para vergonha final, quarta-feira na arena. Fechei meu olhos ontem para o futebol.

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